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“Se, portanto, conseguimos averiguar onde se encontrava D. Teresa no Verão de 1109 e a acharmos aí em condições tais que não lhe possibilitassem sair de lá, estaremos em face de duas circunstâncias que não têm poder que as impugne” (p. 48).
“Se, portanto, conseguimos averiguar onde se encontrava D. Teresa no Verão de 1109 e a acharmos aí em condições tais que não lhe possibilitassem sair de lá, estaremos em face de duas circunstâncias que não têm poder que as impugne” (p. 48).
A verdade é que, ao contrário daquilo que repetidamente afirma, Almeida Fernandes não conseguiu demonstrar onde se encontrava D. Teresa no Verão daquele ano. A única certeza que existe é a de que a Rainha esteve em Coimbra no dia 29 de Julho de 1109, mas isso nada nos informa acerca do local de nascimento de Afonso Henriques, por não sabermos ao certo em que data aconteceu.
Para reforçar a sua teoria acerca do nascimento de Afonso Henriques em Viseu, no início de Agosto de 1109, Almeida Fernandes invoca a carta de Foral de Zurara (actual Mangualde). A data de 1102, que consta no documento, foi questionada pelo paleógrafo Rui Azevedo que, com bons argumentos, a situou algures entre 1109 e 1112. Almeida Fernandes, num curioso exercício de pura especulação, começa por afirmar que o foral foi passado entre Julho e Agosto de 1109 (p. 37), para, mais adiante, depois de ler no documento aquilo que nele não está escrito, o datar, “mui presumivelmente” de 5 de Agosto de 1109 (p. 140), estando ambos os concessores, Henrique e Teresa, em Viseu (p. 37). Ora, se não está demonstrado que aquela seja a data do foral (a que nele consta, apesar de questionável é, sem sombra de dúvidas, 1102), também nada permite sustentar que tenha sido dado em Viseu, fosse em que data fosse.
Este documento tem para Almeida Fernandes o mérito de consolidar a sua tese de que D. Teresa estaria, por aqueles dias, retida em Viseu, permitindo-lhe fixar a data do nascimento do infante no dia 5 de Agosto e justificar a presença ali de Egas Moniz, que foi um dos três delegados dos conde na outorga do foral a Zurara. Tinha ido, segundo o autor, buscar o filho de Henrique e Teresa, já nascido ou em vias de nascer: “tendo sido designado aio da criança, viera para aí a fim de recebê-la” (p. 144). Esta explicação até poderia ser plausível, se fosse certo que o foral tinha sido passado no dia 5 de Agosto de 1109, em Viseu. Porém, não há sustentação documental que permita situar a outorga do foral naquela data nem naquele local.
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Deixe-me lembra-lhe Séneca:
"Veniet tempus quo ista quae nunc latent in lucem dies extrahat et longioris aeui diligentia. Ad inquisitionem tantorum aetas una non sufficit, ut tota caelo uacet: quid quod tam poucos annos inter studia ac uitia non aequa portione diuidimus? Itaque per successiones ista longas explicabuntur. Viniet tempos quo posteri nostri tam aperta nos nescisse mirentur.”
Séneca
(Corduba, 4 a.C. – Roma, 65 d. C.)
in SÉNÈQUE – Questions Naturelles, texte établi et traduit par Paul Oltarmare. Tomo I/III, Paris, Société d’Édition Les Belles-Lettres, 1929, pp 326-327.
Tradução livre: “Virá o dia em que, através de um estudo continuado de muitos séculos, as coisas actualmente escondidas parecerão evidentes e a posteridade se espantará por coisas tão claras nos terem escapado.”
Saudações,
António José Coelho