Ao fundo, já se escuta a cadência dos sinais da festa que se repete, todos os anos, entre o cair de Novembro e os primeiros dias de Dezembro. Festa de saudade, para tantos espalhados por esse Mundo afora. Como o grande jornalista de renome mundial, Joaquim Novais Teixeira, que, no Notícias de Guimarães de 29 de Novembro de 1969 fez publicar o texto que aqui se recorda:
Sempre me alimentei da boca da infância. Ainda hoje as iguarias da minha mesa são o dia-a-dia da minha mesa de menino, tão raro nestas lonjuras do mundo!...
Depois, o espírito. Aí desabrochou. Cresceu, ganhou barbas cá fora, mas jamais perdeu as raízes. Quando digo que não sou português, sou de Guimarães, quero dizer na minha que Portugal é uma simples catalogação do homem vimaranense que eu sou.
Há, em mim, húmus-telúrico. Sou de Guimarães antes de Guimarães ser. Sou homem mais da Terra que da História. De Guimarães, me interessa mais um Amigo que o Castelo; mais as suas gentes que as suas muralhas. Neste sentido de eternidade que dou em mim ao homem de Guimarães, um Amigo veio antes ao mundo que a Dona Mumadona, e Deus sabe as chegadas à Lua que o esperam ainda? - e a que luas!
Depois dos sentimentos vieram as ideias. Ora, as ideias nascem, se desenvolvem e aperfeiçoam em mim sempre no caldear dos sentimentos que aí desabrocharam. Quando leio um livro que nada tem, as mais das vezes, com Guimarães, mas no que salta acidentalmente o nome de Guimarães, sinto, ao deparar com o nome, um sobressalto, o sobressalto de me encontrar a mim mesmo quando menos o esperava.
Não sou homem de dogmas, mas, se alguns me vêm ao subentendido são todos de Guimarães. No uso corrente da língua me ficaram palavras de Guimarães, ignoradas fora da nossa zona linguística. Por exemplo, Catixa!... Há muito pelo mundo a que dizer Catixa!... O Catixa! me surpreende com frequência quando falo de mim para mim, o que é mais frequente ainda.
A palavra Saudade está gasta e depreciada no nosso folclore de ocasião. É pena, mas não tenho outra para vos dizer que estou cheio, cheiinho de saudades vossas. Vocês não sabem que luzem mais em mim as luzes da Rua de Santa Maria que as de todos os Campos Elísios, romanos ou parisienses, deste Continente e dos outros?!
Tenho também o meu Calendário pessoal com os seus respectivos fastos. Todos de criança, todos de menino! Entre eles, os das Nicolinas, com o seu “Pinheiro”, com o seu “Pregão”, com as suas “Maçãs”.
Rapazes do meu Liceu, velhinhos meus: uma maçã das minhas para a mais linda rapariga de Guimarães! É difícil, impossível a escolha. Vem do coração, eu sei! Oh!, mas se Ela fosse neta de alguma moça que aí conheci ou namorisquei às portas da adolescência!...
E que o ribombar da pele da minha alma ecoe na pele dos vossos bombos para melhores destinos do Homem, do Homem acima e por cima da História, da História feita ou por fazer, do Homem da nossa Terra e de todas as Terras, do Homem sobre todas as coisas!...
Sempre me alimentei da boca da infância. Ainda hoje as iguarias da minha mesa são o dia-a-dia da minha mesa de menino, tão raro nestas lonjuras do mundo!...
Depois, o espírito. Aí desabrochou. Cresceu, ganhou barbas cá fora, mas jamais perdeu as raízes. Quando digo que não sou português, sou de Guimarães, quero dizer na minha que Portugal é uma simples catalogação do homem vimaranense que eu sou.
Há, em mim, húmus-telúrico. Sou de Guimarães antes de Guimarães ser. Sou homem mais da Terra que da História. De Guimarães, me interessa mais um Amigo que o Castelo; mais as suas gentes que as suas muralhas. Neste sentido de eternidade que dou em mim ao homem de Guimarães, um Amigo veio antes ao mundo que a Dona Mumadona, e Deus sabe as chegadas à Lua que o esperam ainda? - e a que luas!
Depois dos sentimentos vieram as ideias. Ora, as ideias nascem, se desenvolvem e aperfeiçoam em mim sempre no caldear dos sentimentos que aí desabrocharam. Quando leio um livro que nada tem, as mais das vezes, com Guimarães, mas no que salta acidentalmente o nome de Guimarães, sinto, ao deparar com o nome, um sobressalto, o sobressalto de me encontrar a mim mesmo quando menos o esperava.
Não sou homem de dogmas, mas, se alguns me vêm ao subentendido são todos de Guimarães. No uso corrente da língua me ficaram palavras de Guimarães, ignoradas fora da nossa zona linguística. Por exemplo, Catixa!... Há muito pelo mundo a que dizer Catixa!... O Catixa! me surpreende com frequência quando falo de mim para mim, o que é mais frequente ainda.
A palavra Saudade está gasta e depreciada no nosso folclore de ocasião. É pena, mas não tenho outra para vos dizer que estou cheio, cheiinho de saudades vossas. Vocês não sabem que luzem mais em mim as luzes da Rua de Santa Maria que as de todos os Campos Elísios, romanos ou parisienses, deste Continente e dos outros?!
Tenho também o meu Calendário pessoal com os seus respectivos fastos. Todos de criança, todos de menino! Entre eles, os das Nicolinas, com o seu “Pinheiro”, com o seu “Pregão”, com as suas “Maçãs”.
Rapazes do meu Liceu, velhinhos meus: uma maçã das minhas para a mais linda rapariga de Guimarães! É difícil, impossível a escolha. Vem do coração, eu sei! Oh!, mas se Ela fosse neta de alguma moça que aí conheci ou namorisquei às portas da adolescência!...
E que o ribombar da pele da minha alma ecoe na pele dos vossos bombos para melhores destinos do Homem, do Homem acima e por cima da História, da História feita ou por fazer, do Homem da nossa Terra e de todas as Terras, do Homem sobre todas as coisas!...
Paris, Novembro de 1969.
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