Vimaranenses: Frei Manuel de S. Dâmaso

Entre o primeiro dia de Novembro de 1883 e o último de Outubro de 1884, publicou-se em Guimarães o jornal O Espectador, que contou entre os seus principais colaboradores com os padres João Gomes de Oliveira Guimarães, o Abade de Tagilde, e António José Ferreira Caldas. O primeiro publicou uma série de pequenas notas bibliográficas de “vimaranenses ilustres” e o segundo cotejou uma cronologia intitulada “Efemérides Vimaranenses”. Nos próximos tempos, irei publicar aqui os textos que for transcrevendo desse jornal efémero. Começo com uma nota do Abade de Tagilde sobre Frei Manuel de S. Dâmaso.


Frei Manuel de S. Dâmaso

Perfaz hoje 195 anos que em Guimarães veio à luz o nosso ilustre compatrício Frei Manuel de S. Dâmaso, tendo por progenitores, João de Castro o Vasconcelos e sua mulher Maria Vieira de Lima.

Deixando o século na poética idade de 20 anos, veste a roupeta dos franciscanos no nosso convento a 7 de Dezembro de 1708, tornando-se logo notável.

Dado distintamente aos trabalhos do púlpito foi nomeado pregador no capítulo de 1715, e indefesso apóstolo das letras e por elas elevado aos cargos mais importantes da sua ordem, tais como: bibliotecário no convento de S. Francisco em Lisboa, secretário, custódio e cronista-mor da província da Soledade em Portugal, e ainda visitador na ilha da Madeira e dos seminários Brancanes e Varatojo.

Mas fazendo-se, além disto, reflectir no século as cintilações do seu génio e dos seus merecimentos, ocupou fora do claustro e com notável distinção os lugares de consultor da bula da cruzada e membro da antiga Academia Real da Historia Portuguesa, criada por el-rei D. João V e hoje extinta.

Atesta-nos ainda hoje a sua passagem gloriosa e benemérita – além de outras obras a “Verdade elucidada e falsidade convencida” sobre assuntos da Inquisição lusitana. Foi esta obra publicada em fólio nos prelos de Lisboa em 1730, e escrita contra o dominicano Fr. Pedro Monteiro.

O nosso muito notável escritor, Alexandre Herculano, na sua Historia da Inquisição” confere ao nosso imortal patrício foros valiosos de crítico muito sincero e polemista muito abalizado.

Depois de suas lides literárias e científicas, em bem da religião e da pátria, descansou na morte a 22 de Janeiro do 1867(1).

(1) Aliás, 1767 (aan)

[João Gomes de Oliveira Guimarães, in O Espectador, n.º 10, Guimarães, 3 de Janeiro de 1884]

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