Imagens de Guimarães: O Toural


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O Toural. Gravura publicada no "Archivo Pittoresco", 7.º ano (1864), pág. 217.

"Até ao período do século XVIII […] as casas desta praça eram quase todas de alpendrada sobre colunas de pedra, ao uso antigo. Nos fins, porém, desse mesmo século, e no começo do seguinte, que é a época de maior prosperidade de Guimarães, pelo grande desenvolvimento da sua indústria fabril e do seu comércio de exportação para o Brasil, procedeu-se à construção de prédios, que deram à praça do Toural um novo e mais grandioso aspecto.
Foi demolido até aos alicerces todo o lanço de muros da cerca de D. Dinis e em seu lugar se edificaram dois quarteirões, compostos de diferentes propriedades, mas sob um risco uniforme, e de arquitectura regular, relativa a cada quarteirão, com lojas, sobrelojas, e mais dois andares no quarteirão maior, e três no mais pequeno, correndo-lhes pela frente um largo passeio lajeado.
Onde estava a torre de S. Domingos, ao norte, construiu-se outro prédio, parecido com estes, e nesse mesmo lado se edificaram outros ao diante. A porta da Vila e a porta Nova, também denominada postigo de Sampaio, desapareceram, deixando franca passagem a duas ruas que entram na praça. A primeira daquelas ruas, que conduz ao terreiro da Misericórdia, e à rua Sapateira, e praça de Nossa Senhora da Oliveira, conserva o nome de porta da Vila.
Os outros lados da praça não apresentam regularidade de construções; todavia foram-se reformando as velhas casas de alpendrada, e contam alguns edifícios de boa aparência.
A praça do Toural é bastantemente vasta. Não sabemos a medida da sua extensão, mas parece-nos, se não nos falha a memória, que não será muito inferior á da nossa praça de D. Pedro, sendo também pouco menos larga do que esta.
Levanta-se o cruzeiro quase na extremidade do norte. Assenta a cruz sobre uma esbelta e alta coluna de ordem coríntia, se bem nos lembramos, cuja base está colocada em um patim, de onde descem para a praça cinco degraus. No pedestal em que repousa a haste da cruz lê-se a seguinte inscrição: Esta obra mandou fazer o juiz e irmandade de Nossa Senhora do Rosário no ano de 1650.
Corresponde ao cruzeiro, no lado oposto da praça, o chafariz, que é de forma tão elegante e delicada, que podia servir de adorno no meio de qualquer jardim. Cai a água de duas taças para um tanque cercado de assentos. As taças, e as mui delgadas colunas que as sustentam e separam, são cobertas de lavores, que, apesar de esculpidos no granito, produzem belo efeito. Sobre a taça superior serve de remate ao chafariz uma esfera de bronze dourado, coroando dois escudos igualmente de bronze, colocados um contra o outro, nos quais se vêem pintadas as armas reais em um deles, e uma águia coroada no outro.
A nossa gravura, copiada de uma fotografia, representa esta parte da praça, em que avulta o chafariz.
À esquerda vêem-se os dois quarteirões de que acima falámos. A estampa mostra dois prédios do maior, e parte do mais pequeno. As lojas nestes quarteirões são ocupadas quase todas por mercadores de panos de lã e de sedas. É aqui, nas lojas, e no passeio de lajedo que corre junto delas, que se reúnem diariamente os tafuis e passeantes, para matarem as horas de ócio, conversando e inquirindo novidades. É o Chiado de Guimarães.
Outrora, quando o comércio dos linhos, das cutelarias e dos curtumes de coiros espalhava profusamente entre o povo de Guimarães riqueza e alegria, faziam-se a miúdo pomposas festas na praça do Toural. Aproveitavam-se todas as solenidades e quaisquer pretextos de regozijo público para se fazerem danças populares com esquisitas invenções de vestuário, cavalhadas, fogo de vistas, e outras diversões, cujo aparato era realçado pela grandeza da praça, pela multidão dos espectadores."
[I. de Vilhena Barbosa, in Archivo Pittoresco, 7.º ano (1864), pág. 217-218]

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