Num texto anterior, escrevi:
É certo que, nos tempos que correm, como noutros, nem tudo é bonito no combate eleitoral. Em parte, já se faz nas chamadas redes sociais, que é território muitas vezes mal frequentado e pouco recomendável, povoado de jagunços e de perfis falsos ou ocultos que desempenham a missão de fazer o trabalho sujo a que outros se escusam a meter as mãos.
A propósito do modo como a batalha autárquica se vai travando nas
chamadas redes sociais, poderia dar vários exemplos do que transcrevi acima,
mas dou só um. Trata-se de uma página do Facebook que se diz dedicada aos
vimaranenses zelosos da sua cidade, do seu concelho e da sua identidade, e que
afirma “uma visão de futuro ancorada no orgulho do nosso passado e na vivência
do nosso presente”. Não se sabe quem são os seus autores, que usam como imagem
de perfil uma fotografia do monumento de D. Afonso Henriques e como foto de capa a legenda da Torre da Alfândega, Aqui Nasceu Portugal. Tem cerca de 3700
seguidores.
Não é preciso construir um algoritmo muito complexo para se
perceber por onde alinham os seus mentores (basta seguir o rasto das partilhas dos
artigos que ali se publicam e a frequência das partilhas pelos mesmos
utilizadores). É, manifestamente, um instrumento de comunicação politicamente
orientado com o propósito de promover uma das candidaturas às próximas eleições
autárquicas em Guimarães. Embora algo tosco, porventura intencionalmente, é dado a algumas subtilezas, como dedicar uns
textos elogiosos a figuras com orientações políticas distintas das dos seus
mentores, mas só das que, nas actuais circunstâncias, não aquentam, ou partilhar alguns textos que não arrefentam de pessoas não conotadas com a sua
linha “editorial” (inclusive textos meus). As caixas de comentários são o que
seria de esperar num espaço com esta natureza: não raras vezes, fazem lembrar
um recipiente que existia nos velhos cafés, o escarrador. Nada de inesperado,
nada de ilegítimo. Tudo nos conformes. Muitos dos textos que ali se publicam acabam com uma proclamação:
Guimarães merece melhor. E eu até estou de acordo com ela.
Uma breve análise ao que ali se escreve permite concluir que tudo
gira em torno de ideias básicas: em Guimarães, tudo o que é feito pela
administração municipal é mal feito, o concelho vai de mal a pior em todos os
rankings e devia pôr os olhos em Braga, onde se faz tudo bem (mesmo quando o
que por ali se faz não é mais do que a continuação ou a reprodução do que fazia o dinossauro
que, durante décadas, presidiu à Câmara de lá, de orientação política contrária à
actual maioria).
A crer no que se publica naquele espaço, Braga é o padrão da administração
autárquica, a candeia luminosa que deveria guiar os passos deste concelho
pequenito, mísero e atrasado, rumo a um futuro
radioso - a bracarização de Guimarães como caminho.
Eu só estranho ainda não ter encontrado por ali qualquer referência
à última grande obra braguesa: o
César Augusto tintado, a escultura garrida do imperador da Bracalândia,
recentemente inaugurada, com pompa e circunstância à altura dos melhores
carnavais e com uma monumental saudação em forma de pateada da parte dos
arqueólogos e dos historiadores de arte, que adjectivaram a coisa de kitsch,
que é um modo abreviado de lhe chamar parola por parte de pai e mãe. Muito me admira
ainda não ter lido, na página de que falo, o lamento-reivindicação que proclamaria que, se
Braga tem, Guimarães também merece uma estátua pintada e que, não havendo por
cá imperador, até poderia ser o Guimarães das duas caras que, tal como as
estátuas romanas que o renascimento descoloriu, também era pintado de origem.
Andam distraídos, os Vimaranenses?
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