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Na sua obra, Almeida Fernandes começa com dúvidas – “a investigação (que ainda não foi feita) é que terá que indicar a solução plausível” (p. 15) e acaba com certezas firmes como rochas quanto à sua tese viseense – “tais factos e circunstâncias são em tão grande número e peso, e tão coincidentes, que equivalem a um certificado do que em matéria histórica possa considerar-se indubitável” (p. 208). Porém, a sua tese é uma construção manifestamente frágil e inconsistente, assente em alicerces sem qualquer solidez.
Na sua obra, Almeida Fernandes começa com dúvidas – “a investigação (que ainda não foi feita) é que terá que indicar a solução plausível” (p. 15) e acaba com certezas firmes como rochas quanto à sua tese viseense – “tais factos e circunstâncias são em tão grande número e peso, e tão coincidentes, que equivalem a um certificado do que em matéria histórica possa considerar-se indubitável” (p. 208). Porém, a sua tese é uma construção manifestamente frágil e inconsistente, assente em alicerces sem qualquer solidez.
A enunciação de Almeida Fernandes parte, expressamente, de duas premissas basilares: a datação do nascimento do infante no início de Agosto de 1109 e a presença de D. Teresa em Viseu por aqueles dias. Demonstrada a sua inconsistência, fica comprovada a fragilidade da tese viseense, recentemente transformada em matéria mediática, com vertentes de afirmação bairrista e de vanglória autárquica.
Nos dias que correm, continuam certas as palavras que A. de Almeida Fernandes escreveu, no início da obra que dedicou ao nascimento daquele que seria o primeiro rei português:
“Nestas condições, tudo o que a tais respeitos se tem dito e ultimamente se diz há-de ser o mais raso eliminado como meramente devido a efeitos de prestidigitação autoral. Não significa isto eliminar in limine Guimarães e Coimbra: a investigação (que ainda não foi feita) é que terá que indicar a solução plausível – visto que não temos uma certidão de nascimento de D. Afonso Henriques”(p. 15).
Quanto ao estado da arte, no que toca ao local de nascimento de D. Afonso Henriques estamos, depois de Almeida Fernandes, como estávamos antes. Terá sido em Viseu? Nada aponta nesse sentido, nem por via da História, nem pela da tradição. Continuamos a não saber – ninguém o sabe de ciência certa – onde foi. Provavelmente, nunca o saberemos. Assim sendo, onde falha a História, vai prevalecendo a tradição, velha de muitos séculos.
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Deixe-me lembra-lhe Séneca:
"Veniet tempus quo ista quae nunc latent in lucem dies extrahat et longioris aeui diligentia. Ad inquisitionem tantorum aetas una non sufficit, ut tota caelo uacet: quid quod tam poucos annos inter studia ac uitia non aequa portione diuidimus? Itaque per successiones ista longas explicabuntur. Viniet tempos quo posteri nostri tam aperta nos nescisse mirentur.”
Séneca
(Corduba, 4 a.C. – Roma, 65 d. C.)
in SÉNÈQUE – Questions Naturelles, texte établi et traduit par Paul Oltarmare. Tomo I/III, Paris, Société d’Édition Les Belles-Lettres, 1929, pp 326-327.
Tradução livre: “Virá o dia em que, através de um estudo continuado de muitos séculos, as coisas actualmente escondidas parecerão evidentes e a posteridade se espantará por coisas tão claras nos terem escapado.”
Saudações,
António José Coelho