Memórias Paroquiais de 1758: Lordelo



Assim como Guardizela, em 1758 Lordelo também pertencia ao termo de Barcelos. A resposta ao inquérito das Memórias Paroquiais é da mesma escola dos de Gandarela e Guardizela.
Nesta freguesia existe uma pequena capela românica, a de S. João de Calvos. Andou anexa ao arcediagado de Olivença (Santa Cristina de Longos)
Em Lordelo passa o rio Vizela, que:
Traz bastantes peixes miúdos, a saber, barbos, bogas e algumas trutas, escalos e ouregos. É todo devasso para quem nele quiser caçar em todo o ano e não tem proibição, só os três meses defesos, que são Abril, Maio e Junho, que é tempo da criação.
Não faço ideia que peixes sejam os ouregos.

Lordelo
Recebi do Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor uma ordem com uns papéis impressos que tinham vindo de Sua Majestade, que Deus guarde, para informar das coisas notáveis desta freguesia o que tenho para informar é o seguinte.
Está esta freguesia de São Tiago de Lordelo situada na Província de Entre-Douro-e-Minho, termo da vila de Barcelos, comarca e Arcebispado de Braga Primaz.
Não é de senhor particular.
Tem, fogos, cento e trinta e, pessoas, quatrocentas e noventa.
Está situada na beira de um rio chamado Vizela, num vale, e dela se descobrem as freguesias de São Martinho do Campo e de São Mamede e de Vilarinho e do Salvador do Campo, São Pedro de Roriz, São Tomé de Negrelos e Santo André de Sobrado, tudo em circuito desta freguesia, que qualquer delas distará um quarto de légua. Está sujeita à vila de Barcelos, por ser do seu termo.
Está a igreja no meio da freguesia, num lugar chamado da Igreja. Tem mais lugares, a saber, Lobazim, Tainde, Carreiro, Gainde, Monte, Seara, Enxudros, Lordelo, Pinheiro, Ribeiro, São João de Calvos, Portela, Mide, Rua das Casas Novas. O seu orago é São Tiago Maior. Tem a igreja quatro altares. Tem três confrarias, a saber, do Subsino, do Sacramento e de Nossa Senhora do Rosário. Os altares, um é de São Tiago, outro do Sacramento, outro de Nossa Senhora, outro das Almas. Não tem naves. O pároco é vigário que apresenta o Arcediago de Santa Cristina, o Excelentíssimo Senhor José Ferreira de Abreu, Monsenhor na Patriarcal. Rende ao pároco quarenta mil réis. Não tem beneficiados.
Tem uma ermida chamada São João de Calvos, situada no mesmo lugar de São João. Não concorre gente a romaria.
Os frutos que se recolhem nesta terra são milho grosso e miúdo e centeio, mas não em muita abundância, e, da mesma sorte, vinho verde.
Está sujeita, como já disse, às justiças de seu termo, que é Barcelos.
Não tem juiz ordinário, não é couto, nem cabeça de concelho.
Não tem feira, nem correio e se vale do da vila de Guimarães, que dista duas léguas. Dista de Braga três léguas e meia e de Lisboa sessenta e três.
Não padeceu dano algum no terramoto de mil e setecentos e cinquenta e cinco.
E, enquanto aos mais interrogatórios, não tenho nada que dizer, somente de um rio que passa por esta freguesia, chamado Vizela, que tem uma ponte de pedra, chamada Ponte de Negrelos.
Tem quatro azenhas no sítio desta freguesia.
Traz bastantes peixes miúdos, a saber, barbos, bogas e algumas trutas, escalos e ouregos. É todo devasso para quem nele quiser caçar em todo o ano e não tem proibição, só os três meses defesos, que são Abril, Maio e Junho, que é tempo da criação.
Não tem serra alguma, nem mais coisa digna de memória. É a informação que dou a Vossa Mercê.
São Tiago de Lordelo, 22 de Maio de 1758 anos.
O vigário João Luís Portela.
O pároco Manuel Fernandes.
O encomendado José de Almeida Coutinho e Vasconcelos.

Lordelo”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 11, n.º119, p. 1123 a 1124.
[A seguir: Moreira de Cónegos]

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1 Comentários

Muito obrigado pelo blog com a descricâo de Lordelo em 1758. Linda a linguagem da época. Em minha imaginacâo se desdobram paisagens místicas de uma época que ainda nâo conhecia automóveis, estradas asfaltadas, postes e galpôes de fábricas.

Meu antepassado, o licenciado Simâo Alves Pereira (Alvares, Alvres) veio da Vila de Lordelo por volta de 1750 para o distrito de Santo Antônio da Casa Branca, hoje "Glaura", Ouro Preto, Minas Gerais onde viveu, se casou e faleceu no ano de 1800. Deixou vasta descendência no Brasil.

Procurei o seu registro de nascimento entre 1730 e 1710, mas infelizmente nada encontrei. Seus pais eram Domingos Martins e Ana Gonçalves. Se alguém souber de mais, estaria muito grato em receber alguma dica.

Saudacôes!

Rainer Pfeiffer Novelli

rainer.p.n(@)gmail.com