Memórias Paroquiais de 1758: Atães

Igreja de Atães
A freguesia de Santa Maria de Atães resultou da fusão da paróquia que já tinha deste nome com a de Santa Cristina de Caíde. No início do século XX, absorveu a freguesia da Lobeira, que lhe ficava a Norte, da qual existe a memória paroquial de 1758. Estava na dependência do Mosteiro da Costa, dos frades jerónimos.

Atães
Freguesia de Santa Maria de Atães, termo da vila de Guimarães, Arcebispado de Braga Primaz, Província de Entre-Douro-e-Minho.
Aos cinco dias do mês de Abril do ano de mil e setecentos e cinquenta e oito anos, nas casas da residência desta freguesia de Santa Maria de Atães, termo da dita vila, onde é a morada de mim, o padre Manuel de Oliveira, pároco desta freguesia, aí me foi entregue uma ordem assinada pelo Muito Reverendo Senhor Doutor Provisor deste dito Arcebispado Primaz, Francisco Fernandes Coelho, com muitos transuntos impressos, a qual recebi com todos os ditos transuntos e deixei um para mim e os mais os remeti à igreja de São Romão de Mesão Frio, que é a freguesia que se segue, o que tudo satisfiz na forma que o dito Senhor me determinava na dita ordem. E, aos doze dias do mês de Maio do dito ano, principiei a dar resposta aos interrogatórios da dita ordem, em presença do reverendo Manuel Lopes de Abreu, abade da dita freguesia de São Romão e do reverendo José da Costa de Miranda, vigário de São Cosme de Lobeira, vizinhos desta freguesia, a qual dou na forma seguinte.
1. Esta freguesia se chama de Santa Maria de Atães e antigamente eram duas freguesias, uma com o título e nome de Santa Cristina de Caíde e esta com o mesmo nome que agora tem. E se desfizeram estas duas igrejas do lugar em que antigamente estavam, e delas se fez esta, no lugar em que hoje está, que é no meio das ditas duas freguesias. E, no lugar em que elas estavam antigamente, se vêem ainda hoje vestígios delas e se chamam o lugar da Igreja Velha da parte de Atães e o lugar da Igreja Velha da parte de Caíde.
2. Esta igreja e freguesia é unida ao mosteiro de Santa Marinha da Costa, extramuros da dita vila de Guimarães, da ordem de São Jerónimo, e há incerteza do rei que a deu ao dito Mosteiro da Costa e do tempo em que foi unida. Do cartório do dito mosteiro consta que, na era de César de mil e duzentos e oitenta, se fizera uma justificação em que se mostrou que metade do padroado desta freguesia era seu e que a outra metade, na era de César de mil e duzentos e três, lhe fizera doação Lourenço Mendes, abade da outra igreja que se chamava de Santa Cristina de Caíde e do dito cartório não consta mais clareza alguma.
3. Esta freguesia é da Província de Entre-Douro-e-Minho, termo da vila de Guimarães, Arcebispado de Braga.
4. Tem esta freguesia, ao presente, trezentos e trinta vizinhos e, menores, trinta e sete.
5. Esta freguesia está situada numa ribeira baixa e dela se descobre a freguesia, acima dita, de São Romão de Mesão Frio e a de São Mamede de Aldão e a de São Torcato, vizinhas desta, como também a de São Lourenço de Cima de Selho e a de São Pedro Fins de Gominhães, que distam desta freguesia meio quarto de légua, pouco mais ou menos.
6. Esta paróquia está no meio desta freguesia, pegada a um monte que serve de pasto dos gados e fatos dos moradores desta dita freguesia e é situado de carvalhos e castanheiros e pedras e penedos grossos.
Tem desta freguesia, da parte de Caíde, os lugares seguintes: Casais, Sendim, Fonte, Veiga, Talhados, Rebentão, Pinheiro, Fundelos, Rio, Negrinho, Várzea, Chão, Soutinho, Voga, Igreja Velha, Caminho, Fenda, Naja, Mestre, Cabo, Figueiredo, Gondizalves, Mortório, São Martinho, Penedo, Taipa, Bouça. Da parte de Atães, tem os lugares seguintes: Varziela, Lombrezido, Longarela, Eido, Baje, Outeiro, Eido, Devesa, Passos, Corda, Quintãs, Valinho, Rossa, Gondarem, Campelo, Rego, Morteira, Gavinho, Adro, Igreja Velha, Sá, Lerdeiras, Cruz, Moinho, Contrasto, Maranhas, Quintã, Verdial, Bairro de Cima, Cancela, Roupeiro, Urjal, Herdade, Bairro da Naja, Pombal, Barroca.
7. Tem esta freguesia por seu orago a Nossa Senhora de Assunção, com o título e nome de Santa Maria de Atães.
8. Tem esta igreja três altares, um com a imagem da dita Senhora, no meio do retábulo sobre o altar e, da parte da Epístola, está Santo António, e, da parte do Evangelho, está São Francisco. No corpo desta igreja está um altar, da parte da Epístola, com o Santíssimo Sacramento, e, no meio do retábulo, está uma imagem de Cristo Crucificado e, dos lados, estão São Gonçalo e São Sebastião e, da parte do Evangelho, está outro altar com a imagem de Nossa Senhora do Rosário e outra de São Frutuoso. Esta igreja é de uma só nave, tem uma irmandade da dita Nossa Senhora do Rosário e a confraria do dito Santíssimo Sacramento.
9. Esta igreja é de curato anual e é de apresentação do Dom Abade do dito Mosteiro da Costa. Rende para o pároco quarenta mil réis, pouco mais ou menos, e, para o dito mosteiro, em dízimos e por meias, quatrocentos e trinta mil réis, pouco mais ou menos.
10. Os frutos que recolhem e recebem os moradores desta freguesia das suas terras são milhão e vinho, a que chamam verde, e também algum trigo e centeio e milho alvo e painço e feijões e algum azeite. E a mais abundância é do dito milhão e vinho. Frutas, poucas, como também castanhas e landres.
Esta freguesia está sujeita às justiças da dita vila de Guimarães, de quem el-rei Nosso Senhor é senhor.
11. Desta freguesia eram naturais as primeiras religiosas e fundadoras da Madre de Deus da dita vila de Guimarães, por nome Maria de São Francisco, Serafina de Santo António e Ana de Jesus, filhas de Pedro Francisco, do lugar da Rebentão, desta freguesia, moças donzelas e de vida exemplar.
12. O correio desta freguesia é o da dita vila de Guimarães, que parte para a cidade do Porto à sexta-feira e vem ao domingo, e daqui à dita vila é meio quarto de légua pequeno.
Desta freguesia à cidade de Braga são três léguas e à cidade de Lisboa sessenta.
13. Tem esta freguesia, da parte de Caíde, cinco privilégios das Tábuas Vermelhas de Nossa Senhora da Oliveira, da dita vila, e, da parte de Atães, tem seis, que todas fazem onze.
14. Não padeceu esta igreja, nem a freguesia, coisa alguma no Terremoto do ano de mil setecentos e cinquenta e cinco.
Dos mais interrogatórios não tenho que dizer.
Nesta forma, demos por bem feitas as perguntas e respostas da dita ordem, de tudo o que pudemos descobrir nesta freguesia de memória e antiguidade, sem deixarmos coisa alguma de fora que soubéssemos. E nos assinámos aqui, hoje dia e mês e ano ut supra.
O pároco Manuel de Oliveira.
O pároco José da Costa e Miranda.
O abade Manuel Lopes de Abreu.

Atães”, Dicionário Geográfico de Portugal (Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo, Vol. 5, n.º 29, p. 723 a 727.

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