As indústrias vimaranenses em 1899 (3)

Recorte do jornal Vimaranense, de 4 de Junho de 1895

Na última parte da sua reportagem sobre as indústrias de Guimarães, publicada em 1899 no jornal O Progresso, o padre Almeida Silvano continua a contar a história da instalação da fábrica de pentes a vapor da Madroa, dos irmãos José e Francisco Dias de Castro.

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Cartas do Minho
Mas para chegar a este ponto quantos embaraços e dificuldades tiveram que vencer?! E todos levantados pela inveja! essa erva daninha que tanto se alastra por toda a parte, nos corações pequenos e maus.
Como haviam pedido alguns dinheiros para porem a fábrica em andamento — tendo gasto nela 16 contos — a inveja atiçou a campanha do descrédito contra os snrs. Dias & Irmão, exigindo-lhes os credores os pagamentos integrais, ao que elos não podiam satisfazer, como é claro, porque no princípio tudo são despesas. Valeram-lhe alguns amigos — Manuel Pinheiro Guimarães, Joaquim Ferreira dos Santos e Simão da Costa Guimarães — os quais evocaram a si todos os créditos e pagaram a todos os credores: os snrs. Dias garantiram-lhe tudo com a mesma fábrica e propriedades de família. Estavam salvos: o crédito da fábrica também, e o seu futuro assegurado, graças àqueles cavalheiros a quem eles proclamam amigos e seus benfeitores.
Eis, a rápidos traços, a história desta nova manifestação da indústria nacional, aonde a destinada a representar um papel honroso, não tendo concorrência no mesmo Porto.
Pensam seus proprietários em novos e progressivos melhoramentos. E irão para diante, porque são honestos e de perseverança.
O irmão José, o técnico, vai todos os dias para a fábrica às 4 horas da madrugada; quando o pessoal lá chega já está tudo em acção de começar o trabalho.
O Francisco, que tomou à sua conta o escritório, que dirige em grande tino, pelo que pude observar, lá comparece às 5, todos os dias.
Aqui os saúdo, e faço votos por suas prosperidades, e para que se mantenham sempre na linha adoptada. Deus os há-de ajudar, e hão-de ir longe...
Mas agora vejo que apenas estou no princípio da jornada!!
Então a visita às ruínas do Castel- lo, que assistiu às lutas da nossa independência? o templo de S.ª da Oliveira, do século 10? a Biblioteca Pública, monumento do notável arqueólogo Dr. Martins Sarmento, há pouco roubado às glorias pátrias? e o passeio à Penha, monte sobranceiro a Guimarães, com talvez mais de 500 metros de elevação, de onde se descortina, lá ao largo, a faixa dom, e onde se admira, de par com os colossais monólitos, que parece foram bolas de bilhar em jogo diluviano, que ali pararam, um dos mais variados, belos e encantadores panoramas de todo o Minho?
E do Seminário-Liceu, um dos que mais me agradam por sua vastidão e disposição de suas partes?...
Não é possível falar agora destas coisas, porque não tenho hoje ocasião, nem as colunas do Progresso mo aceitariam sem protesto. Talvez lhe fale ainda noutra da Penha o do Seminário.
Veremos. No entanto, receba os meus adeus, enquanto lhe não dou notícias de outra região bem diferente, qual é o nosso Douro.
Mgr [Monsenhor] Almeida Silvano
O Progresso, Guimarães, 3 de Dezembro de 1899


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