Em Agosto de 1898, começou a publicar-se em Guimarães uma gazeta de periodicidade irregular, imaginada e, quase toda ela, escrita, por dois jovens vimaranenses, João de Meira, que somava 17 anos, e António Garcia de Sousa Ventura, que ainda não passava dos 15 anos e que, um dia, muito mais tarde, chegaria a Chefe do Estado-Maior da Armada. Chamava-se A Parvó nia e tinha pendor satírico (propunha-se "metralhar a Parvónia a cascas de pepino"...). N o seu quarto número, datado de 5 de Janeiro de 1899, inseriu uma carta às damas d…
Acontece muitas vezes, por dever de escola ou de ofício, termos que ficar a ouvir, por um tempo que parece aspirar à condição de eternidade, alguém muito douto a derramar palavras que manam, caudalosas, de uma erudição torrencial quase sempre feita de um saber que, as mais das vezes, a ninguém interessa ou aproveita, a não ser ao perorador, para ostentação da sua sapiência ou ornato da sua vanglória. São aquelas sessões, mais aborrecidas do que o aborrecimento, de onde só nos apetece fugir, mas não podemos. E então, desligámos. E lá ficámos…
Largo do Chiado e rua Garrett, em 1900. Fotografia de Joshua Benoliel, do Arquivo Municipal de Lisboa. No ano lectivo de 1899-1900, João de Meira estava em Lisboa. O seu amigo Joaquim Costa esclarecerá o motivo da presença de Meira na capital: “ele foi para a Politécnica de Lisboa, ver se os manes da química orgânica se lhe não mostravam tão adversos”. O “Herodes degolador de inocentes” a que Meira se refere era o célebre professor António Joaquim Ferreira da Silva, uma das figuras mais proeminentes da ciência portuguesa do seu tempo, di…
Revista de Guimarães, 122/123 Foi lançado recentemente mais um volume da Revista de Guimarães que dedica a maior parte das suas páginas a um dos mais cintilantes homens de letras vimaranenses, João de Meira. De ofício, foi médico e professor de medicina e exerceu as funções de director da Morgue do Porto. Foi também um escritor de largos recursos cujos limites nunca chegámos a conhecer, já que a morte o levou demasiado cedo, a 24 de Setembro de 1913, com 32 acabados de completar. A Sociedade Martins Sarmento homenageou-o na passagem do …
Reflexão de João de Meira sobre ao sentido que fazia, em 1901, comemorar o 1.º de Dezembro (passando ao lado das referências datadas, facilmente se perceberá que mantém plena actualidade nos tempos que correm): É próprio de velhos entrevecidos pela gota ou pelo correr de longos anos recordar, com saudade e superabundância de adjectivos laudatórios, os tempos idos em que tinham mocidade e vida e força. Portugal assim é, notamo-lo com mágoa, ao deslizar de cada novo ano, quando o primeiro de Dezembro chega e com ele a retórica do…
A entrega das maçãs (foto de Guimarães2012 ) Em 1898, João de Meira, então com 17 anos de idade, fundou em Guimarães A Parvónia, um jornal de arte e crítica , que deu que falar, pela sua irreverência. Dele já aqui falamos , e a ele voltaremos. Para já, aqui fica um texto de A Parvónia , em que, assinando com o nome do demo, João de Meira se dirige às moças de Guimarães, para lhes dar um par de conselhos, entremeados por trechos de pregões de Bráulio Caldas e de versos de académicos de inspiração inflamada. Carta a Vós senhor…
Pergunta-me um amigo se as Memórias de Araduca entraram novamente em hibernação. Não. O que acontece é que por estes dias me tenho dedicado a ler tudo o que escreveu João de Meira e tudo o que encontro que se escreveu sobre João de Meira (em parte a reler, em parte a descobrir, porque, afinal, João de Meira escreveu muito mais do que aquilo que normalmente lhe tem sido atribuído). João de Meira foi, em Guimarães, a inteligência mais luminosa da sua geração. Destacou-se como médico e professor de medicina, mas foi, acima de tudo, u…
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