As finais do Vitória Sport Clube - 1941-1942 (1)

A equipa do Vtória Sport Clube de 1941-1942. Foto retirada do blogue Glórias do Passado.
O Vitória Sport Clube vai disputar, este ano, a sua sétima final da Taça de Portugal. A primeira foi em 1942, frente ao Belenenses. Segundo a imprensa da capital, era a segunda vez que um “team” da “província” alcançava tal feito, depois da Académica, vencedora da primeira edição da prova.
A taça de Portugal começou a disputar-se na época futebolística de 1938-1939. O Vitória Sport Clube conta-se entre as 16 equipas que estrearam a competição, de onde saiu logo na primeira eliminatória, em que defrontou o Futebol Clube do Porto (vitória em casa na primeira-mão, 3-2, derrota copiosa na segunda, 11-1). No ano seguinte, não participou. Em 1940-1941 voltou à competição, tendo eliminado o Barreirense nos oitavos de final (0-0, em casa, 1-6 no Barreiro) caindo nos quartos aos pés do Sporting (dupla derrota: 12-0 em Lisboa, na primeira-mão, 2-4 em casa). Até aqui, a história não era especialmente entusiasmante. Todavia, no ano seguinte, tudo seria diferente.
Na edição de 1941-1942, ao contrário do que acontecera até aí, todas as eliminatórias da Taça foram disputadas a uma única mão. A competição começou nos oitavos de final, com o Vitória a jogar em casa e a despachar o Estoril Praia por 7-2. Nos quartos, novamente no campo do Benlhevai, o Vitória recebeu o Espinho, batendo-o por 4-1. Nas meias-finais, novamente em casa, o Vitória disputou o acesso à final da taça num jogo com o Sporting, onde pontificavam algumas das lendas do clube lisboa, com destaque para o violino Peyroteo, desforrando-se da humilhação do ano anterior: 2-1, venceram os da casa. O Vitória Sport Clube estava na sua primeira final da Taça de Portugal.
O jogo disputou-se ao fim da tarde do dia 5 de Julho de 1942, hora que não impediu que o vespertino Diário de Lisboa, ainda nesse dia, em segunda edição, publicasse o relato do jogo de Guimarães:

Os “leões” foram perder a Guimarães…

Nos jogos de hoje para a “Taça de Portugal”, encontraram-se em Guimarães o Sporting e o Vitoria, daquela cidade, em Lisboa, Belenenses e Unidos.
Destes quatro sairiam os finalistas, dos quais um receberia, depois o cobiçado troféu.
Qualquer dos encontros revestia-se, nesta altura, de uma importância decisiva, convergindo as atenções da “afición” para aquilo que os “leões” seriam capazes de fazer em frente dos valorosos vimaranenses, na casa destes.
“Azuis” e “unidistas”, nas Salésias, prometiam um espectáculo agradável, com perspectiva de forças equilibradas e, por isso, de renhida luta.
Damos e seguir os costumados relatos destes jogos.
V. Guimarães, 2 — Sporting, 1
GUIMARÃES, 5. (Pelo telefone directo) — Jogo no campo de Bem-lhe-vai, que oferece belo aspecto, com grande enchente e muito entusiasmo.
Os grupos alinham:
V. de Guimarães — Machado; Lino e João; Castelo, Zeferino e José Maria; Laureta, Miguel, Alexandre, Ferraz e Arlindo.
Sporting — Dores; Rui e Cardoso; Paciência, Daniel e M. Marques; Armando Ferreira, Soeiro, Peyroteo, Pireza e J. Cruz.
Árbitro — Gabriel da Fonseca, de Coimbra.
Os grupos são muito ovacionados ao entrar em campo, cabendo a saída no Vitória, que nos primeiros dez minutos se empregou com entusiasmo.
E esse entusiasmo foi de tal forma desbordante que o Sporting não pôde evitar que os vimaraneses obtivessem, aos 11 minutos, o 1.º ponto da tarde, marcado por Arlindo.
O jogo passou a decorrer com notório equilíbrio, pleno de emoção, alternando-se as jogadas de certo perigo, num e noutro campo.
Aos 29 minutos, os “leões” estão novamente em apuros, pois o defesa Rui mete mão na grande área. A penalidade correspondente é executada por Alexandre, mas o esférico embate no poste e o perigo passa...
Seguidamente os locais têm a seu favor um “corner” de que nada resulta.
Pouco depois da meia hera, Lino magoa-se e sai fora do rectângulo do jogo.
Nem pelo facto de catar reduzido a dez elementos o Vitória deixa impor o equilíbrio já referido. No entanto, são os vimaranenses que criam as situações de maior apuro, obrigando Dores a mais trabalho do que o seu colega.
E aos 37 minutos, numa insistência de ataque, os locais logram o 2.º “goal”, novamente rematado por Arlindo.
O Sporting luta, então, com o maior afinco para diminuir a desvantagem, mas os seus jogadores não estão a jogar com o entendimento necessário.
Assim, chega-se ao intervalo com o resultado de 2-0 a favor do Vitória.
Para a segunda parte, Armando Ferreira troca o seu lugar com o de Soeiro e o Vitória tem os seus onze jogadores em campo.
O Sporting recomeça com maior poder ofensivo e breve obriga a defesa contrária a conceder “corner” que não tem consequências.
Os lisboetas creditam-se, agora, de ligeiro domínio, que é compensado, aos 8 minutos, com um “goal” de Peyroteo, passando o “score” para 2-1.
Os lisboetas têm ocasião de brilhar nalguns lances primorosos que arrebatam a assistência, mas os locais nunca deixam de oferecer réplica condigna, conseguindo também interessar a numerosa assistência que os aplaude com calor.
O jogo decorre com muitos motivos de agrado, de igual para igual, mas com ascendente dos visitantes.
O Sporting força o andamento do jogo e perde algumas oportunidades de marcar, especialmente num forte remate de Pireza a radar a trave.
O tempo passa e o marcador conserva-se inalterável.
Já perto do fim, fazem-se tentativas e mais tentativas quer dum, quer doutro grupo, mas mais deliberadamente dos visitantes que vêem extinguir-se o tempo regulamentar na situação de vencidos.
O apito final surge, no entanto, sem que o Sporting consiga evitar a derrota por 2-1, num jogo muitíssimo emotivo.
Diário de Lisboa, 5 de Julho de 1942 (2.ª edição)
No dia seguinte, o habitual comentador de futebol daquele jornal, Tavares da Silva (jornalista e treinador de futebol, que chegou a seleccionador de Portugal), fazia a a sua análise ao jogo:
Pelo factor sorte (acentue-se este aspecto que é particular e próprio desta competição), e também por valor próprio (em futebol o valor traduz-se em goals, um clube até há pouco quase ignorado, o Vitória de Guimarães, tombou o Sporting, com sua linha de internacionais, à entrada da final, sentando-se agora lado a lado com o Belenenses. O futebol ganha no aspecto da sua expansão, valorizando-se, dado o fortalecimento de alguns clubes que, na Província, o praticam entusiástica e abnegadamente. Óptimo!
Factor sorte, pois…

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