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S.NIcolau |
Desconhecemos
o nome do autor do pregão a S. Nicolau de 1869, que, na versão imprensa, vem
assinado com três asteriscos (***). Foi recitado por Carlos de Castro de Araújo Abreu.
BANDO
ESCOLÁSTICO
RECITADO
EM 5 DE DEZEMBRO DE 1869 CARLOS DE C. ARAÚJO ABREU
Salve, jóia de Lícia, flor
do mundo,
Das graças, dos heróis
torrão facundo;
Salve, milhões de vezes,
pátria amada,
Na história, e na Epopeia
decantada.
Gemias, Guimarães? com negro
manto
Enxugavas no rosto amargo
pranto?
A escolástica festa te
lembrava,
Que em delírios de gozo te
deixava?
As saudades ameiga, a dor
adoça,
Que é chegada outra vez a
festa nossa,
É chegada essa festa de
espavento.
Que as mais sepulta lá no
esquecimento.
Olha a inveja, de beiças já
caída,
Como daqui se ausenta
espavorida,
E agro fel espumando, em
raiva ardendo.
Lá se vai entre os matos
escondendo!
Coitada! está com ferro até
ao cabo,
Vai ligeira a fugir com lata
ao rabo;
Deixá-la, que não vem neste
áureo dia
Turbar nossos transportes de
alegria
Bem-vindo sejas, dia
venturoso,
Que nos derramas iam sublime
gozo;
Bem-vinda sejas, memorável
festa,
Que longe expeles a tristeza
infesta.
Quem pode descrever os
estudantes,
De costumes com trajes
elegantes,
Castanhas pelo povo
derramando,
A todos com facécias encantando,
E chalaça a dizer de gosto
fino,
Que arrumaria a um canto o
Tolentino?
Quem os pode pintar com as
mãos mimosas
Dando maçãs às damas tão
formosas,
E temos requebrando-se em
choreias,
Que até mesmo às caducas
centopeias
Fazem as rugas desfranzir do
rosto,
E os turvos olhos chamejar
de gosto?
Nem Rubens com o pincel,
Robin com a pena
Podiam descrever tão rica
cena;
Só quem a festa com seus
olhos goza,
É que pode; ajuizar quanto é
pomposa,
E aquele que não viu função
tão linda,
O que é belo, o que é bom,
não viu ainda.
Mas vós, patrícias, por quem
só gostamos
Puras auras vitais que
respiramos,
Ah! nenhuma se mostre
despeitada,
Porque outra foi primeiro
contemplada
Com a doce oferenda da maçã
tão bela,
Oh com a dança defronte da janela.
Cedo ou tarde o estudante
neste dia
A todas satisfaz com
galhardia.
Mal de vós se um desprezo
recebemos,
Que grosseiras então vis
chamaremos,
E esse estigma que arroja o
estudante,
Jamais ganhar vos deixa um
terno amante
De todos perdereis as
simpatias,
E ficareis somente para
tias.
Não sejais pois assim tão
melindrosas,
Ternas mostrai-vos, e sereis
ditosas;
Um sorriso na boca nacarada,
Qualquer carinho vosso, um
gesto, um nada.
Vale mais para nós do que o
universo,
E havemos de cantá-lo em
prosa e verso.
Mas cautela, futricas, nossa
dita
Não vos mova a saltar a lei
prescrita;
Desgraçados se máscara
puserdes.
Fará das damas um sorriso
haverdes.
Talvez, talvez por aí algum
janota
Já não queira cevar-se na
bolota,
E disfarçado assim pretenda
astuto
Neste dia provar mimoso
fruto!
Ou fidalgo, ou peão, não há
diferença,
De rojo ireis ao tanque sem
detença,
E nem loucos penseis no
vosso orgulhe
Que o denodo vos salva do
mergulho;
Qualquer de nós é Hércules
possante,
Que derruba com um sopro
audaz gigante.
Nas praças do Toural e da
Oliveira
Já a audácia abatemos
altaneira,
E os que houvemos aí lauréis
de glória
Bem no fundo gravar lá da
memória,
Para que no porvir não mais
ousados
Aos nossos atenteis foros
sagrados.
Temei nosso valor, que tudo
doma,
Qual em Lícia não há, não
houve em Roma,
Valentes, esperançosos
estudantes,
Que da pátria sereis astros
brilhantes,
Com o som festival desses
tambores!
Atroai a cidade, e os
arredores;
Que não haja palácio, ou
tosca choça,
Onde a nova não vá da festa
nossa,
O som por toda a parte
ouvido seja,
Embora de pesar se mirre a
inveja.
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