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Gravura alusiva à revolta da Maria da Fonte |
18 de Abril de 1846
Sábado.
- Ainda concorreu à feira desta vila bastante gente, apesar de estar tudo
sobressaltado com os acontecimentos dos últimos dias, pois estavam levantados
os povos de muitas freguesias do concelho, principalmente para o lado de Braga
e esperava-se tropa do Porto e que houvesse muito sangue, pois a tropa, segundo
o costume, havia de fazer muita desordem e o povo querendo resistir-lhe havia
de fazer com este conflito com que se temesse esta crise. Neste dia não ocorreu
nesta vila acontecimento algum notável (apesar de não haver nela ainda
autoridade alguma) senão uma agitação mui grande mostrando quase toda a gente
desejos de que não viesse tropa e que os revoltosos não fossem incomodados.
Alguns membros da Câmara mandaram afixar um edital no qual se dizia que a
Câmara ia oficiar ao comandante da força que vinha do Porto e que já se achava
em Santo Tirso, que retirasse ou ao menos não viesse a esta vila, pois estava
em sossego!... Na Tarde deste dia alguns sublevados de Sande andaram a dar
busca por algumas casas da vila, dizendo que procuravam soldados e armas.
Constava que em Braga, ontem e hoje, tinha havido muito fogo dado pelos povos
sublevados de algumas aldeias, que queriam entrar naquela cidade, não constando
ainda que tivessem entrado na cidade. PL.
(João Lopes de Faria, Efemérides Vimaranenses, manuscrito da
Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, vol. II, p. 50)
Havia começado em Março, na Póvoa de Lanhoso, a rebelião
popular que se espalharia pelo Minho durante a Primavera de 1846. Os primeiros
tumultos populares em terras de Guimarães aconteceram nas freguesias situadas a
norte, para os lados de Braga. No dia 14 de Abril, levantaram-se, sucessivamente,
as gentes de Balazar, Sande, Caldelas, Ponte e Fermentões, chegando à ponte de
Santa Luzia, na entrada da vila. Os sinos tocaram a rebate e eram mais mulheres
do que homens os que se juntaram, armados de paus, pedras e espingardas,
gritando vivas à rainha e morras a Costa Cabral. Nos dias seguintes, iam
chegando à vila notícias que anunciavam que a revolta se ia alastrando a outras
freguesias do concelho.
Ao início da tarde do dia 16, a vila foi invadida
por povo armado com espingardas, foices roçadoiras, chuços e paus, fazendo-se
preceder por um tambor, e gritando "tributos abaixo". Fizeram repicar
os sinos de S. Pedro do Toural, a que se seguiram os sinos de todas as outras torres, percorreram as ruas e arrombaram as portas da administração do concelho, que
então estava instalada no antigo convento de S. Domingos, de onde retiraram os
papéis do lançamento de impostos, que seriam queimados no Toural.
Para dia 18, sábado e dia de feira, temia-se o pior.
Afinal, nesse dia, apesar dos rumores que circulavam, houve algum sossego em Guimarães.
Os tempos que viriam a seguir seriam de grande turbulência. Guimarães estaria
no epicentro da revolta da Maria da Fonte e da Guerra da Patuleia, que se lhe
seguiu.
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