As poesias de António Lobo de Carvalho (3)


Memorial ao Il.mo e Preclaríssimo Senhor Fernando de Larre, em que o autor lhe representa a próxima chegada do Inverno.


Ilustre Provedor, a minha zanga
É Novembro, e Dezembro; o ímpio Janeiro
Também não quer que eu vista o mesureiro
Fraque irrisório da sebenta canga:

O prisco meu capote é uma tanga
Que apenas cobre o andor que vai dianteiro;
Se eu fora há tempos de algum borra herdeiro
Fizera um novo de uma velha manga:

Mas já não foi assim, nem vejo agora
Que mal fez à Fortuna um triste poeta,
Que quanto mais o aclama o deteriora:

Venha pois essa capa, ou parda, ou preta;
Farei como forçado cá de fora,
Que indo a rastos me sirva de calceta.

Neste soneto, António Lobo de Carvalho continua a fazer variações sobre o mesmo tema, o permanente estado de necessidade em que vivia, “cravando” a Fernando de Larre uma capa nova, para enfrentar os rigores do Inverno.

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