Efemeridário vimaranense para 2016


o Papa S. Dâmaso

Neste 2015 que agora findou, muito se falou de tradições. Que são para de cumprir, diz-se, e, perante afirmação tão imperativa, impõe-se que se cumpram, mesmo que tenham acabado de ser inventadas. Neste blogue, é tradição fazer-se a lista das efemérides vimaranenses para cada ano que se inicia. Apesar de por aqui a actividade não andar muito intensa (fica, solene e firme, a resolução de ano novo: isso vai mudar!), não, não será desta vez que a tradição deixará de ser cumprida. No ano de 2016 haverá, em Guimarães, efemérides de todos os tempos e para todos os gostos. A mais antiga completa 1650 anos e teve S. Dâmaso como protagonista. A última, assinala o cinquentenário da inauguração de um posto de abastecimento de combustíveis. Aqui fica a nossa lista, que resulta de uma escolha que não tem a pretensão de ser exaustiva.

No primeiro dia de Outubro do ano de 366 foi entronizado na cadeira pontifical o papa S. Dâmaso que, segundo a tradição, é natural das terras de Guimarães. Sucedeu ao pontífice Libério, que falecera a 24 de Setembro do mesmo ano. Os tempos iniciais do seu pontificado seriam marcados por um conflito sangrento, em que teve que vencer a oposição do antipapa Ursino. Passam 1650 anos em 2016.
No dia de 23 de Outubro completa-se o oitavo centenário da primeira concordata assinada entre o Cabido e Prior de Guimarães e o arcebispo de Braga, ordenada pelo Papa Inocêncio III para regular os conflitos de jurisdição entre a Sé de Braga e a Colegiada de Guimarães. A assinatura teve lugar no ano de 1216, na povoação espanhola de Benavente, tendo sido mediada por dois arcediagos, um de Astorga, outro de Zamora.
Ruinas do Paço dos Duques de Bragança

No início de 1666, andando em construção o convento dos padres da Piedade (Capuchos) de Guimarães, chegou ao conhecimento das autoridades locais que aqueles religiosos tinham sido autorizados pelo rei a servirem-se de toda a pedra existente no interior do Paço dos Duques, apenas ficando obrigados a manter de pé as paredes exteriores do monumento. Numa reunião que juntou na Câmara 92 homens da governança concelhia, decidiram contestar aquela decisão, por ser contrária “ao bem e honra desta república e moradores dela”. Seria também decidido fazer uma vistoria ao edifício, que ficaria a cargo de Gonçalo Vaz de Sampaio e Pedro Lopes, mestres de pedraria, e António de Andrade, arquitecto. Da descrição que então fizeram, enumeraram-se no Paço mais de 500 portais, entre grandes e pequenos, e mais de 70 chaminés embutidas nas paredes, “muitas com trompas de grande altura e escadas por dentro das mesmas paredes por onde se sobe a passear em vistosas varandas”. Para tentar impedir a demolição do edifício, a Câmara decidiu, em meados de Fevereiro, entregar aos padres capuchos a pedra da barbacã do muro de Santa Bárbara, além de quarenta mil réis, retirados do dinheiro destinados às calçadas. No entanto, esta decisão seria revogada em reunião da vereação, por se entender que seria prejudicial aos interesses concelhios. Foi há 350 anos, no dia de 30 de Março de 1666.
Claustro do Convento das Capuchinhas de Guimarães
Às três da tarde do dia 13 de Abril de 1716, as freiras fundadoras do Convento das Capuchas saíram do Convento de Santa Clara de Guimarães, em procissão solene encabeçada pelo estandarte da Câmara e rodeada de grande pompa, para darem entrada no seu convento as freiras. Sendo presidido pelo Senado Municipal, seguido pela nobreza da vila, o cortejo integrava o arcebispo de Braga, o Cabido da Colegiada e era fechado pelas religiosas do convento que se ia inaugurar. Passa este ano o terceiro centenário.
Alguns dias depois, a 21 de Abril, nasceu em Guimarães o escritor Fernando António da Costa de Barbosa. Era filho de Francisco da Rocha Veloso e de Isabel da Trindade Barbosa, tendo aprendido as primeiras letras na terra que lhe serviu de berço. Aos dezasseis partiu para o Brasil, de onde regressaria em 1747, com meios de fortuna suficientes para se dedicar à escrita. Casou em Lisboa onde, tanto quanto se sabe, terá fixado residência. De sua lavra, conhecem-se três elogios históricos dedicados ao padre João Baptista Carbone, da Companhia de Jesus, a Manuel Caetano Lopes de Lavre, secretário e membro do Conselho Ultramarino e ao cardeal Tomás de Almeida, primeiro patriarca de Lisboa.
Há duzentos anos, no dia 10 de Março de 1816, nasceu, na rua da Tulha, uma filha de João António Fernandes Viegas e de Maria Raimunda, que na vida religiosa adoptaria o nome de D. Antónia Amália de Assunção Viegas. Tomou o hábito no convento de Santa Clara de Guimarães em 29 de Abril de 1832, onde professou a 5 de Maio de 1833. Com a sua morte, a 8 de Setembro de 1891, ficou extinto o convento, de que foi a última freira.
Miguel J. T. Mascarenhas, iniciador da Associação Artística Vimaranense.
No dia 26 de Fevereiro de 1866, em assembleia geral realizada no Teatro D. Afonso Henriques, foi instalada a Associação Artística Vimaranense, que em 2016 cumpre o seu sesquicentenário. A iniciativa nasceu nas páginas do jornal Gazeta do Minho (que se publicou, durante algum tempo, em substituição do Religião e Pátria), tendo como principal impulsionador o jornalista e escritor Miguel de Mascarenhas e tinha sido preparada numa outra reunião, realizada na mesma sala no dia 15 daquele mês, em que fora eleita uma comissão instaladora composta pelos jornalistas Miguel Mascarenhas e João Pinto de Queirós e pelos homens de negócios João António da Silva Areias e António José Ferreira Caldas. É uma associação mutualista, aberta a todos os indivíduos residentes em Guimarães que exercessem qualquer arte ou ofício. Segundo os seus estatutos, confeccionados na redacção da Gazeta do Minho, teria como fins “socorrer os seus associados quando, por moléstia, decrepitude ou prisão não pudessem exercer a sua profissão; auxiliar as suas famílias e promover o melhoramento da respectiva classe”. No dia da instalação, que decorreu entre grande entusiasmo, a Associação contava com 148 sócios. No final da sessão, rebentaram foguetes e ergueram-se vivas, dirigindo-se os artistas às casas do iniciador e instalador, Miguel Mascarenhas, e de Avelino Germano da Costa Freitas, médico que havia oferecido os serviços clínicos graciosos à associação, durante um ano. A Associação Artística Vimaranense teria a sua instalação definitiva no dia 30 de Janeiro de 1870.
O andor da Candeia ou do Rolo.

Se o ano de 1866 viu nascer uma associação mutualista, assistiu ao desaparecimento de uma das suas tradições mais enraizadas. Na véspera do Espírito Santo percorreu pela última vez as ruas de Guimarães a Procissão da Candeia, mais conhecida por Procissão da Marafonas ou dos Pães Bentos. Realizava-se na tarde da véspera do Espírito Santo, saindo alternadamente das igrejas de S. Domingos, S. Francisco e Santa Clara. Naquele ano, tocou a vez à igreja de S. Domingos. Foi no dia 19 de Maio de 1866.
Data do mesmo ano, do dia 4 de Setembro, a portaria do Ministério do Reino que mandando entregar à Câmara de Guimarães todas as obras que existissem em duplicado na biblioteca de Braga, que serviriam de base para a fundação de uma biblioteca pública municipal nesta cidade. Esta deliberação veio na sequência de sucessivos pedidos da Câmara vimaranense. Após a criação da Sociedade Martins Sarmento, os livros da biblioteca pública serão entregues à guarda daquela instituição, onde permaneceram até à instalação da Biblioteca Municipal Raul Brandão, inaugurada em 1992.
Primeira página do n.º 1 de O Republicano (exemplar da Hemeroteca da Sociedade Martins Sarmento)
No dia 26 de Março de 1916 saiu o primeiro número do jornal O Republicano, propriedade do Centro Democrático Vimaranense. Era publicado aos sábados, tendo como editor e administrador o padre António de Jesus Teixeira e Eduardo de Almeida como redactor principal. Teve vida curta, mas constitui um marco assinalável na história da imprensa local vimaranense. Cumpre-se este ano um século.
1916 foi ano de uma ocorrência rara em dois séculos que se completam em 2017. O acontecimento foi o que não aconteceu: entre 29 de Novembro e 6 de Dezembro não houve festas dos estudantes de Guimarães a S. Nicolau.
No dia 15 de Março de 1966 foi inaugurado o posto de abastecimento e estação de serviço da SACOR, situado em Urgeses (junto à actual circular urbana). Era um posto duplo, com duas ilhas de abastecimento para abastecimento de veículos ligeiros, onde estavam instaladas nove bombas auto-medidoras eléctricas, além de ilhas para abastecimento de veículos pesados e motociclos, com acessórios de ar e de água. As instalações do complexo incluíam stands de exposição e esplanadas cobertas, de onde se anunciava uma vista privilegiada sobre o vale de Creixomil. A inauguração fez-se com grande ponta e circunstância. O arquitecto Fernando Távora assinou o projecto. Foi há cinquenta anos e não falta por aí quem ainda se lembre.

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