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Relendo "A Farsa", de Raul Brandão
Raul Brandão (1867-1930) A Farsa é uma das obras de Raul Brandão onde Guimarães está presente com maior evidência. Em dia em que os sinos não param de tocar na cidade e arredores, aqui fica uma página do grande escritor da Casa do Alto: (…) A seu lado está a Felícia, presidente honorário das servas de Deus , associação instituída para que ninguém possa morrer sem confissão. É uma velha magra, austera e ríspida. Remexe de contínuo a boca enorme. Tem a maxila inferior saliente e os seus gestos são decisivos. Quando fala ordena. Os passos ran…
Depois do debate
Vista de Guimarães, a partir do Monte Cavalinho, no início do século XX Aqui ficam algumas notas à margem do debate de ontem: 1. Ao longo do dia de hoje, tenho recebido mensagens de amigos que julgavam que eu deveria estar incomodado com palavras que o Presidente da Câmara proferiu depois da minha intervenção. Já conheço suficientemente bem o Presidente da Câmara para perceber que, por vezes, tem um modo peculiar de usar o verbo. O que disse foi que sou um homem difícil. Isso não é ofensa. Ofensa seria dizer que sou fácil. Há mesmo coisas …
Receitas da Rainha do Mercado (2)
[continua daqui ] Enquanto vou reflectindo sobre o debate de ontem à noite, que me deixou sensações divididas, aqui ficam mais duas receitas da Rainha do Mercado, para "adoçar o bico": 3. ALMENDRADOS Batem-se 2 claras com 250 gr. de açúcar durante 20 minutos seguidos. Em seguida juntam-se-lhe 200 gr. de amêndoas raladas e uma colherinha de chá de farinha flor. Distribui-se esta massa aos montinhos regulares sobre folhas de hóstia e levam-se a cozer em forno brando. 4. CROISSANTS Tomam-se 500 gr. de farinha triga flor, 50 gr. …
Largo da Misericórdia (1)
O Largo da Misericórdia /Conselheiro Franco Castelo Branco em finais do séc. XIX. (clicar para ampliar) Na planta de Guimarães de c. 1569 não encontramos o Terreiro (ou Largo ou Campo) da Misericórdia. O que existia era uma rua situada na actual frente poente do Largo, a Rua das Flores. O terreiro começou a ser aberto em finais do século XVI. Depois do conflito entre Guimarães e Braga dos anos de 1885 e 1886, passou a ser designado por Largo Franco Castelo Branco, adoptando o nome do deputado de Guimarães, que então se destacou na defesa do…
Receitas da Rainha do Mercado (1)
A Rainha do Mercado, “o paraíso das donas de casa”, era uma loja (stand n.º 8) na antiga Praça do Mercado de Guimarães, pertencente a José Alves de Sousa. Vendia produtos de mercearia e confeitaria, queijos e vinhos. No final de Dezembro de 1939, publicou uma brochura com 16 páginas, onde, entre publicidade aos seus produtos e às marcas que representava, dava à estampa “algumas receitas para doces”. Vamos a elas, agradecendo ao Torcato Ribeiro mais esta pequena preciosidade. 1. PUDIM BRASILEIRO Põe-se em ponto de espadana 460 gramas de a…
Las hay, las hay...
Não é difícil de perceber que não me revejo no modo como o processo da Capital Europeia da Cultura tem vindo a ser conduzido. Por vezes, provavelmente influenciado por tanto ouvir falar na suposta hiperidentidade dos vimaranenses, dou comigo a pensar se não estarei a ser hipersensível e hipercrítico. Depois concluo, que não, porque até sou capaz de ver coisas bem feitas na CEC. Foi isso que pensei ao olhar para o logótipo humano que hoje foi construído. A ideia, se não é original, tem impacto visual. Filmado do céu, com um texto bem escrito …
Rua da Rainha, Rua da República, Rua da Rainha
Antes de 1910: Rua da Rainha (clicar para ampliar) A Rainha D. Maria II visitou Guimarães em 1852. Em 1853, elevou Guimarães de vila a cidade. Pouco depois, finava-se de parto (era o 11.º e contava apenas 34 anos). Para a homenagear, a cidade passou a chamar de Rua da Rainha D. Maria II, topónimo logo abreviado para Rua da Rainha, ao conjunto antigamente designado por Rua Sapateira (troço da Porta da Vila à Torre dos Almadas) e Rua dos Mercadores (troço da Torre dos Almadas à Oliveira). A República actualizou a toponímia ao novo regime, &q…
Algo doce, para tempos amargos
Acabo de receber, do meu amigo Torcato Ribeiro, uma publicação de 1940 da "Rainha do Mercado" ( stand n.º 8 do antigo Mercado de Guimarães), cuja "embalagem" aqui fica. O recheio parece delicioso. Vou tomar-lhe o gosto. Depois, pode ser que partilhe.
O fio da meada: Estatutos da Fundação Cidade de Guimarães (4)
Como poderão ser destituídos os membros do CA? De acordo com os estatutos, “por deliberação do conselho geral no caso de violação grave ou reiterada, por acção ou omissão, da lei ou dos Estatutos da Fundação” (art.º 30.º, n.º 1). Ora, a Câmara Municipal de Guimarães, que é o único fundador da FCG, apenas tem um voto no CG, pelo que, mesmo contra a sua vontade, poderá, hipoteticamente, ser obrigada a manter a Fundação até à eternidade. Será que isto faz algum sentido? Sendo os estatutos da FCG aquilo que são, salta aos olhos a necessidade de …
A muralha
A antiga estrada de Fafe (actual Avenida Alberto Sampaio), por volta de 1900. O que restava da muralha, no princípio do século XX, apresentava um aspecto decrépito que parecia irreversível. Ao fundo da imagem, o Paço dos Duques era pouco mais do que um espectro sombrio. A construção que aparece à esquerda da fotografia deve ser a velha Fonte da Barrela.
O fio da meada: Estatutos da Fundação Cidade de Guimarães (3)
[Continua daqui ] Segundo o Decreto-Lei que a institui, a Fundação Cidade de Guimarães foi criada com duração indeterminada. Todavia, resulta claro, que tem com finalidade “a concepção, planeamento, promoção, execução e desenvolvimento do programa cultural do evento Guimarães Capital Europeia da Cultura 2012” - art.º 3.º, a) . Ao mesmo tempo, estabelece-se que, depois de 2012, “a Fundação pode vir a assumir a gestão do património cultural e dos respectivos equipamentos, propriedade do município de Guimarães e de outros que lhe sejam afectos …
O Campo da Feira (5)
Vista da Senhora da Guia e da Avenida Alberto Sampaio a partir do Campo da Feira, antes de 1934. (clicar para ampliar) Esta imagem mostra a Capela da Senhora da Guia, a muralha e, ao fundo, o Paço dos Duques de Bragança. Sensivelmente a meio do pano de muralha que se vê na fotografia, ficava a Torre dos Cães, desmantelada no século XIX. A construção em forma de torre que se vê logo a seguir à Capela é um posto de transformação de electricidade, que foi demolido, por indecente e má figura, em 1934 .
O fio da meada: Estatutos da Fundação Cidade de Guimarães (2)
[continua daqui ] Antes de se ler o que vai a seguir, julgo necessário recordar que a Fundação Cidade de Guimarães não resulta de uma iniciativa de um velho milionário com vocação filantrópica, que resolveu dispor dos seus milhões como bem entendeu. É uma instituição que goza do estatuto de Utilidade Pública e que é sustentada, exclusivamente, por dinheiros públicos. O modo como os estatutos da Fundação Cidade de Guimarães estão desenhados dão à FCG uma condição próxima duma entidade de natureza unipessoal, tal é a concentração de…
O Campo da Feira (4)
Vista da rua das Hortas (actual José Sampaio), a partir do Campo da Feira. À direita, a casa onde nasceu Martins Sarmento. (clicar para ampliar) Foi no Campo da Feira, actual Largo república do Brasil, que nasceu um dos mais destacados cidadãos vimaranenses, ao arqueólogo, etnógrafo, historiador, escritor e fotógrafo Francisco Martins Sarmento. Da casa onde nasceu, demolida na segunda metade do século XX, sobrou a placa, hoje guardada no Museu da Sociedade que nasceu para homenagear Sarmento, onde se lê: Casa onde nasceu aos 9 de Março de 1…
O fio da meada: Estatutos da Fundação Cidade de Guimarães (1)
Já se percebeu: existe um problema que, não fossem os estatutos da Fundação Cidade de Guimarães , já estaria resolvido. Os estatutos da FCG encerram vários mistérios, a começar por não se perceber quem sejam os fundadores desta fundação. Ao contrário do que seria de esperar, o documento não discrimina os instituidores, o que obriga a um exercício de interpretação especulativa. No preâmbulo Decreto-lei que aprova os estatutos (DL 202/2009 , de 28 de Agosto ) consta que “o Município de Guimarães deliberou, em Assembleia Municipal por proposta…
O Campo da Feira (3)
A Igreja dos Santos Passos, ainda sem torres, numa gravura do "Archivo Pittoresco" (1864, pág. 93). (Clicar para ampliar) A Igreja da Irmandade de Nossa Senhora da Consolação e Santos Paços, vulgarmente conhecida por S. Gualter (em Guimarães diz-se S. Gualtér ) foi desenhada pelo arquitecto André Soares (1720-1769). Trata-se de uma obra póstuma, uma vez que a sua construção se iniciou no mesmo ano em que faleceu o autor do seu risco (1769). Foi benzida e aberta ao culto no dia 16 de Outubro de 1785. Não tinha, então, …
O Campo da Feira (2)
O Campo da Feira no início do século XX. Do lado direito, o passeio margina o tabuleiro da antiga ponte do Campo da Feira, entretanto alargada. (clicar para ampliar) O Campo da Feira: Outra imagem do início do séc. XX, posterior à que vai acima. Note-se o aspecto da Penha, praticamente sem cobertura vegetal. (clicar para ampliar) O Campo da Feira, que a Primeira República iria baptizar de Largo República do Brasil, é dominado pela Igreja da Consolação e Santos Passos (também conhecida por S. Gualter), situada no topo sul da Praça. Por ali p…
O Campo da Feira (1)
O Campo da Feira em 1858. Repare-se na Igreja dos Santos Passos, ainda sem as torres. Do lado direito, o antigo Teatro D. Afonso Henriques. (clicar para ampliar) O Teatro D. Afonso Henriques (clicar para ampliar) O Teatro D. Afonso Henriques foi inaugurado a 12 de Agosto de 1858, ano da primeira fotografia que vai acima. Durante décadas, esta foi a mais nobre sala de espectáculos de Guimarães, onde tinham lugar os grandes acontecimentos culturais, sociais e políticos da cidade. Em Maio de 1907, o “Kinematographo Theo …
Um largo com muitos nomes e nenhum (2)
Imagem do Passeio da Independência. Ao fundo, à esquerda, a Igreja de S. Dâmaso, actualmente no Campo de S. Mamede. (clicar para ampliar) Outra imagem do mesmo espaço . (clicar para ampliar) O Largo Prior do Crato. À esquerda, um candelabro desenhado pelo pintor Abel Cardoso, na segunda metade do século XX. (clicar para ampliar) Imagem contemporânea da anterior, mostrando uma outra perspectiva do mesmo espaço. (clicar para ampliar) Em 1911, a estátua de D. Afonso Henriques foi removida para o Toural, onde ficaria até 1940, sendo o…
O que agora nos faz falta (pequeno contributo para um sobressalto cívico)
Tenho sido sondado para assinar a petição em que se pedem novos protagonistas para a CEC , o que me leva a esclarecer que sou, obviamente, solidário com os seu conteúdo e os seus objectivos. Apenas não subscrevo o documento por uma razão meramente formal, por ser dirigido ao presidente do Conselho Geral da Fundação Cidade de Guimarães, órgão que integro e onde poderei, eventualmente, vir a ser chamado a pronunciar-me sobre o conteúdo do mesmo. Quanto à iniciativa, acho-a pertinente e ajustada ao que se exige no momento que vivemos. Entend…
Um largo com muitos nomes e nenhum (1)
O Largo D. Afonso Henriques, numa fotografia da primeira década do séc. XX. Note-se que a Torre da Alfândega (de que falaremos um dia destes, com mais vagar) estava encoberta com publicidade à empresa Neves e C.ª, da rua de Gil Vicente, colocada em Abril de 1906. (clicar para ampliar) Outra perspectiva do mesmo Largo, da mesma época. (clicar para ampliar) Largo D. Afonso Henriques, antes da mudança do monumento. Note-se que as "Escadinhas" tinham então uma configuração diferente da actual . (clicar para ampliar) A to…
Interrogação
Haverá alguém que (ainda) acredite que Guimarães 2012, Capital Europeia da Cultura poderá fazer-se ignorando os cidadãos , a Câmara Municipal de Guimarães e o Ministério da Cultura ?
Das esplanadas e do usufruto do espaço público
A Praça da Oliveira, hoje, ao final da tarde. Passou despercebido, mas na reunião desta semana da vereação ouviu-se o Presidente da Câmara anunciar a sua intenção em pôr ordem nas esplanadas. Ora aí está um bom tema para ser discutido: a invasão de mesas, cadeiras e guarda-sóis que nos ocupam as praças e as ruas. Bem sei que a questão tem várias faces, entre as quais as económicas não serão as menores, já que vários negócios do Centro Histórico dependem da ocupação do espaço público. Mas não compreendo que a Câmara aplique regras tão restrita…
Para saber mais sobre o Toural
Fernando José Teixeira, Histórias à volta do Toural , ed. do autor, Guimarães, 2008 A encerrar, por agora, a série de notas sobre o Toural aqui pulicadas, deixo uma sugestão de leitura. Para conhecer melhor o Toural e as suas histórias, recomendo a leitura do livro de Fernando José Teixeira Histórias à volta do Toura l, onde se cruza a história secular da praça outrora conhecida como a “sala de visita” de Guimarães com as memórias ouvidas e vividas do próprio autor, que ao longo dos últimos anos se tem devotado, com entusiasmo e dedicação, a…
Da distância que vai entre o dizer e o ser
"Eles não estão nem perto do aeroporto... eles estão perdidos no deserto... eles não sabem ler uma bússola... eles são retardados." (Palavras de Muhammed Saeed al-Sahaf, Ministro da Informação de Saddam Hussein, ditas em Abril de 2003, quando as forças norte-americanas já controlavam o aeroporto de Bagdad) Uma capital é uma cidade. Uma cidade é feita de cidadãos. Uma Capital Europeia da Cultura é, tem de ser, um acontecimento que marque pela positiva a história de uma cidade e a memória dos seus cidadãos. Tem de deixar lastro par…
O Toural em imagens - Detalhes (11)
A Casa Ferreira da Cunha, numa fotografia de meados do século XX, cedida pelo meu amigo Jerónimo Silva, actual proprietário daquela loja quase secular. Repare-se na figuras que aparecem nas janelas do piso superior da loja. Na porta ao lado, a Farmácia Barbosa. (clicar para ampliar) Situada na ala nascente da Praça, a Casa Ferreira da Cunha é uma das casas de comércio mais antigas e mais características do Toural, tendo sabido manter a sua identidade. Dedica-se à produção e comercialização de ferragens artesanais em ferro forjado ou bronze f…
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