Gondar
fica entre rios: de um lado, o Ave, do outro, o Selho, que se haverão
de juntar mais
adiante, cada qual com sua ponte, a de Serves e a do Soeiro. Deles
fala o abade da paróquia, que escreve, na parte em que trata do Ave:
O rio Ave nasce na serra da Cabreira, terá de comprido treze léguas e entra no mar na barra de Vila do Conde, conservando sempre o mesmo nome desde o seu nascimento até ao seu ocaso e nesta freguesia corre quieto. Cria peixes miúdos, bastantes, de espécie bogas, enguias e, mui raras vezes, aparece alguma truta, os quais se pescam quase todo o ano livremente, por pessoas curiosas, à cana, com chumbeiras e alvitanas e mingachos, que todas estas três castas de redes são de se lançar e levantar logo no mesmo tempo.
Nos
assentos da visitação capitular da igreja de Gondar do ano de
1733, ficou
registado que as mulheres solteiras
não deveriam ajoelhar-se à frente das casadas, para não ficarem próximas dos
homens, o que dava causa a desacatos. Sobre
esta proibição, a memória paroquial de 1758 nada diz.
Gondar
Em
observância a uma ordem que, por justíssima disposição de Sua
Majestade Fidelíssima e acomodatíssima intimação do Muito
Reverendo Senhor Doutor Provisor da cidade, Arcebispado de Braga
Primaz, me foi apresentada com uns interrogatórios a respeito das
coisas notáveis desta freguesia, o que posso dizer é o seguinte.
Notícia
das coisas notáveis desta freguesia de São João Baptista de
Gondar.
A
freguesia de São João Baptista de Gondar está na Província de
Entre-Douro-e-Minho. É do Arcebispado de Braga, Primaz das Espanhas,
comarca da mesma cidade e termo da vila de Guimarães e de
apresentação do Padroado Real.
Tem cem
vizinhos. Tem duzentas e noventa pessoas, entrando neste número os
menores.
Tem vinte
e nove lugares, todos pequenos e de poucos moradores, convém a
saber, o lugar da Igreja, Canas, Emboladoura, Ponte, Caíde, Boco,
Silva, Olival, Soeiro, Castanheiro, Bouça, Brandião, Outeiro de
Além, Outeiro de Aquém, Casais, Moinhos, Pousada, Tojal, Estrada,
Boavista, Soutinho, Lamas, Gonceiro, Cabreira, Conca, Monte, Lájea,
Campos, Cedofeita e Devesa.
Está
situada esta freguesia em ribeira, com seus altos e baixos. A
paróquia está no meio da freguesia, em sítio airoso e alegre, por
ser desafogado e juntos somente há as casas da residência do pároco
e mais dois caseiros da mesma igreja. O seu orago, como já disse, é
São João Baptista, cuja imagem está colocada no altar maior, onde
está também colocado o tabernáculo do Santíssimo Sacramento. Tem
mais dois altares colaterais, um da parte do Evangelho, com a imagem
de Nossa Senhora do Rosário, outro da parte da Epístola, com a
imagem de São Sebastião. Tem duas irmandades, uma do Santíssimo
Sacramento, outra de Nossa Senhora do Rosário. É igreja abadia e
renderá duzentos e cinquenta mil réis, cujos frutos em maior
abundância são vinho verde, pão de centeio, milho alvo, milhão e
também painço, feijão e algum azeite, frutas, castanhas e bolotas
de carvalhos.
Serve-se
do correio da vila de Guimarães, de onde dista uma légua. E da
cidade de Braga, capital deste Arcebispado, dista três léguas, e de
Lisboa, capital deste Reino, dista cinquenta e sete léguas.
E não
padeceu ruína no terramoto do ano de 1755, senão algumas aberturas
nas paredes da igreja e de algumas casas, porém tão leves, que não
necessitam de se reparar ao presente.
Esta
freguesia está situada entre dois rios, porque da parte do Norte
corre o rio Ave, de Nascente a Poente, e, da parte do Sul corre o rio
Selho, também de Nascente a Poente. O rio Ave nasce na serra da
Cabreira, terá de comprido treze léguas e entra no mar na barra de
Vila do Conde, conservando sempre o mesmo nome desde o seu nascimento
até ao seu ocaso e nesta freguesia corre quieto. Cria peixes miúdos,
bastantes, de espécie bogas, enguias e, mui raras vezes, aparece
alguma truta, os quais se pescam quase todo o ano livremente, por
pessoas curiosas, à cana, com chumbeiras e alvitanas e mingachos,
que todas estas três castas de redes são de se lançar e levantar
logo no mesmo tempo.
Nas
margens deste rio há alguns campos cultivados e árvores com vides e
outras sem elas, quase todas silvestres. Tem este rio uma ponte
chamada a ponte de Serves, entre esta freguesia e a de São Pedro de
Pedome, que é do termo da vila de Barcelos, a qual ponte é de
cantaria e segura e antiga. Tem também nos limites desta freguesia o
dito rio uma levada, com cuja água mói uma azenha, da parte desta
freguesia, e outra, da parte da supra freguesia de Pedome.
O outro
rio, chamado o Selho, é pequeno e alguns anos seca de todo e corre
alguma coisa quieto. Tem de comprido duas léguas pequenas. Nasce e
começa entre as freguesias de Gonça e de São Torcato, para cima de
Guimarães, e fenece no rio Ave, no fim dos limites desta freguesia e
da de Serzedelo, de orago de Santa Cristina, do termo de Barcelos. No
qual rio também se criam alguns peixes das espécies acima ditas,
pela comunicação que tem com o dito rio Ave, e se pescam também
livremente, do mesmo modo que no rio Ave. Tem o dito rio, nos limites
desta freguesia, catorze moinhos de pão de mistura e um de azeite.
Também tem uma ponte de cantaria de um só arco, entre esta
freguesia e a de Santa Cristina de Serzedelo, acima dita. E, pouco
acima desta ponte e do moinho de azeite, se tira um rego de água
livre, para limar e regar alguns campos desta freguesia, situados nas
suas margens e nas do Ave, em cujas margens também há algumas
árvores silvestres, umas com vides e outras sem elas. A dita ponte
se chama a ponte de Soeiro.
Quanto
aos mais interrogatórios, não tenho que dizer, por não haver
dentro dos limites desta freguesia coisa alguma das que neles se
contêm, o que tudo passa na verdade, em cuja fé me assino, com os
dois reverendos párocos vizinhos, abaixo declarados e assinados.
Hoje, em Gondar, aos 15 de Maio de 1758 anos.
O abade
Luís Salgado.
João da
Cunha e Freitas, vigário na paroquial igreja de São Jorge de Cima
de Selho.
Bento
Fernandes, vigário da freguesia de São Cristóvão de Cima de
Selho.
“Gondar”,
Dicionário Geográfico de Portugal
(Memórias Paroquiais), Arquivo Nacional-Torre do Tombo,
Vol. 17, n.º
68, p. 357 a 359.
[A
seguir: Selho, S. Cristóvão de]
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