Vimaranenses: Conde de Azenha

Está na memória de todos os nossos leitores o esplendor principesco, bem como a lhaneza e afabilidade com que o Conde de Azenha recebia nos seus sumptuosos salões tudo o que de mais selecto havia nesta cidade ou que a ela concorria.

As nobres qualidades, a elevada posição e os serviços prestados a esta cidade e ao país por Bernardo Correia Leite de Morais Almada e Castro dão-lhe ingresso nesta secção do nosso humilde semanário. Foi um vimaranense ilustre, de quem muito se ufana nossa terra.

Nasceu aqui a 20 de Outubro de 1806, filho do 1.º visconde de Azenha, Martinho Correia de Morais e Castro a de sua esposa D. Gracia Leite de Almada Machado e Melo.

A carreira das armas, em que seus maiores tanto haviam brilhado foi seguida por Bernardo Correia alistando-se em 1818 no regimento de cavalaria 9, sendo despachado alferes deste corpo em Março de 1820 quando apenas cantava a idade de 14 anos.

A 24 de Agosto deste ano rebenta a revolução liberal, cujas ideias o moro alferes não quis abraçar, seguindo para Trás-os-Montes onde em 1823, ano em que foi honrado com o título de visconde, acompanhou o Marquez de Chaves, que levantara o grito de revolta contra o sistema constitucional, sendo então promovido a capitão e neste posto emigra em 1820 para a Espanha por efeitos da revolução deste ano, em que foi caudilho em Trás-os-Montes o mesmo Marquês de Chaves. Por tal motivo foi demitido do exército.

Restaurado o governo absoluto com a vinda D. Miguel, volta à pátria e de novo em Outubro de 1828 lhe é restituído o antigo posto, sendo em Março seguinte nomeado coronel comandante do batalhão de voluntários realistas do Guimarães. Em 1832 D. Miguel nomeia-o seu ajudante de Campo.

Terminada a guerra civil e implantado o sistema constitucional, retira-se o 2.° visconde de Azenha para Guimarães, vivendo apartado da política e perdendo todos os seus títulos.

Em 1846, porém, adere ao sistema actual e é lhe confirmado o título de visconde e acompanhando o marechal Saldanha no movimento que na nossa história contemporânea recebeu o nome de Regeneração, é admitido novamente às fileiras, dando-se-lhe o seu antigo posto de capitão, no qual se conservou até 1866, sendo então reformado no posto de major.

Era 1852, 27 de Setembro, foi elevado a conde e foi eleito deputado para a legislatura desse ano a 1853; ocupou o cargo de governador civil do distrito de Braga desde 20 de Junho de 1859 a 14 de degenero de 1860 e foi condecorado com os hábitos e comendas das Ordens de Cristo, Conceição, Avis, Torre Espada, Conde de Palatino, medalha da acrisolada fidelidade Transmontana de prata.
Foi o Conde de Azenha senhor d Morgado de Parada do Infanções, casa de Carvalho, por sucessão a seu pai, senhor dos morgados da Gulpilheira, Azenha e Cainos, S. Clemente ou Golias, padroeiro da Misericórdia de Arrifana de Sousa por sucessão de sua mãe. Casou a 29 de Setembro de l830 com D. Maria Custódia Clemência dos Anjos do Sousa e Gouveia, Senhora do Morgado de Freixo de Numão, de quem leve três filhas e um filho, o actual conde de Azenha, o Exm.° Inácio de Morais Correia de Castro Leite de Almada, nascido a 15, de Junho de 1832.

O primeiro conde de Azenha faleceu a 2 de Dezembro de 1869 e no dia 23 foram celebrados os ofícios fúnebres na igreja de S. Francisco. Grande pompa se desenvolveu neste acto. Em volta do catafalco, que se levantava no centro do cruzeiro, 26 pobres dominicos e franciscanos com tochas acesas e 12 criados fardados oravam pelo finado.

Cantou a missa e presidiu ao funeral o Rev.mo Chantre, acolitado pelos cónegos Freitas Costa e Leite e a missa e ofício a música sendo executada pela orquestra de D. Jerónimo, que cantou o ofício de D. Miguel, assim denominado por haver sido composto para as exéquias celebradas por alma deste filho de D. João VI.

Prestou as honras militares ao finado o regimento de infantaria n.° 6, recebendo a chave do caixão o Ex.mo Visconde de Lindoso.

[João Gomes de Oliveira Guimarães, in O Espectador, n.º 50, Guimarães, 16 de Outubro de 1884]

Comentar

0 Comentários